Andre Pita

Repetir ou não repetir a PNA? Eis a questão... - Parte 2

O período após a PNA é pautado por um misto de emoções. Por um lado, ficamos felizes por ter ultrapassado o suplício e queremos festejar. Por outro, não conseguimos ultrapassar a pequena voz na nossa cabeça que nos deixa dúvidas sobre a nossa posição e o que devemos fazer a seguir. O percurso de cada um é diferente e deve ser aquele que melhor se adapta aos nossos objetivos.

Não descartem a vossa Saúde Mental na procura cega dos resultados

     Há que saber quando nos distanciar do estudo para a prova e da Medicina, porque no final do dia somos seres humanos com gostos e vida para além do nosso trabalho. Não se deixem consumir pelo “fear of missing out”, pelo medo “de se não revir esta matéria hoje amanhã já não terei tempo de a ver” ou até pelo receio de falhar. O estudo para a prova pode ser algo aterrador se não tivermos em quem ou no que nos apoiar. Estamos todos no mesmo barco no que toca ao estudo para a prova; no entanto, cada um de nós tem os seus interesses próprios que nos tornam “únicos”. Procurem descobrir aquilo que vos faz sentir bem, algo que vos permita esquecer os problemas e limpar a mente. Para alguns será o desporto, outros a arte/cultura, outros simplesmente ver um filme ou uma série; não importa o que seja, reservem um espaço no vosso calendário semanal para descontrair. No meu caso, procurei iniciar atividades que nunca antes tinha feito ou sempre adiei, inscrevi-me no ginásio, li vários livros que estavam a ganhar pó nas estantes e fui sair com amigos que não via desde o início da pandemia.

     Algo que muita gente me aconselhou e que na primeira vez que fiz a prova achei que não me ajudaria nada era ter um dia da semana em que não estudava. Foi um erro crasso que procurei remediar ao repetir a prova. Decidi que cada semana teria um sábado ou um domingo em que me dedicava a passar tempo com a família ou a fazer algo em nada relacionado com Medicina. Tenham um dia de pausa para recarregar energias e recuperar a motivação para enfrentar mais uma semana de estudo intenso.

     Uma última nota, talvez a mais importante deste ponto, procurem sempre ajuda quando necessário. Não há vergonha nenhuma em falar com a vossa família ou amigos se sentirem que estão perdidos e em burnout, são a nossa maior rede de suporte quando nos sentimos “em queda livre”. Vão ser uma grande ajuda nos momentos mais difíceis e de maior indecisão. Não tenho palavras suficientes para agradecer a todos os que me apoiaram nestes últimos anos, pois sem eles nada do que fiz teria sido possível e não teria conseguido enfrentar mais um ano de estudo.

Medicina não se faz sozinho

     Esta frase sempre me acompanhou ao longo do curso e foi um grande motivador durante o estudo. Tive a felicidade de poder estudar em conjunto com grandes amigos e fez toda a diferença tanto a nível do meu conhecimento como da minha motivação. Organizem grupos de estudo, façam reuniões presenciais ou online em que discutem casos e perguntas de várias plataformas ou mesmo casos escritos por vocês. Não tenham medo de não saberem responder, procurem perceber o que é que vos faltou saber que os vossos colegas sabiam e aprendam com eles, pois não pensamos todos de igual forma. Usem esse tempo em conjunto também para terem um momento de pausa e de convívio aliado ao estudo.

     Algumas das recomendações que funcionaram para mim foi ter uma reunião semanal, que entrava na minha rotina de estudo e me permitia gerir o meu tempo sabendo a data exata da reunião. Encontrem-se num local onde se sintam confortáveis, seja um café, biblioteca ou em casa por videochamada. Revejam a matéria e as questões em conjunto e discutam as dúvidas que cada um teve durante o estudo dessa semana. No fim de cada sessão façam uma pequena revisão dos tópicos mais importantes que foram discutidos ou das dúvidas que ainda persistem. E lembrem-se que podem e devem divertir-se em grupo, mesmo que seja um momento mais sério de estudo.

Não dêem tudo como perdido se sentem que deram o vosso melhor e mesmo assim o exame não correu bem

     Este exame é uma maratona e não um sprint, não dêem tudo por perdido porque a nota não foi o que esperavam. Saibam dar o benefício da dúvida e acreditem em vocês mesmos, porque o exame apenas decide uma posição numa lista, nada diz sobre a vossa capacidade, a vossa inteligência ou sobre a vossa habilidade de serem grandes médicos. Não dêem cabo da vossa auto-estima por uma nota ou pela ideia de uma especialidade. A vossa vida não se vai resumir à vossa profissão. Podemos falhar centenas de vezes até acertar uma vez, mas não é tão simples como dizer que basta continuar a tentar e os resultados surgirão. Podem não surgir logo e o importante é manterem-se focados nos vossos objetivos. Quando algo não corre como queremos, somos muito rápidos a rotulá-lo como um “falhanço”, mas a vossa nota não o é. A nota é a representação de um ano inteiro de esforço e dedicação, e, acima de tudo, é um resultado após uma única tentativa. Não confundam o processo de aprendizagem por tentativa e erro como uma “falha”. Se a meio do estudo sentirem que não estão a melhorar, voltem a repensar no que estão a fazer e não tenham medo de mudar de caminho se sentem que não está a funcionar.

Em suma...

     Há um poema que resume bem aquilo que procurei colocar por palavras neste artigo - “The Road not Taken” de Robert Frost - “Two roads diverged in a yellow wood, / And sorry I could not travel both / (...) Two roads diverged in a wood, and I— / I took the one less traveled by, / And that has made all the difference.” Procurem fazer o vosso próprio caminho e os resultados surgirão, não se deixem prender ao medo de não acabarem na vossa “especialidade de sonho”. A vida dá muitas voltas e o que hoje parece um sacrifício imenso, no futuro, será uma nota de rodapé breve nas vossas biografias. Procurem ser alguém de quem se orgulham ao olhar para o espelho e não a imagem de outra pessoa que agora idealizam.

     Esta é apenas a minha perspetiva, a de um colega que repetiu a prova, e quis partilhar a sua experiência para que outros possam tomar a sua decisão de uma maneira mais informada.

Obrigado a todos por terem lido este testemunho.

Objetivo Educacional

  • Sejam realistas sobre o que conseguem alcançar num dia e quais são os vossos objetivos de estudo. Façam pausas regularmente para se manterem focados quando estão a estudar.
  • Façam uma lista de tudo aquilo que vos faz felizes e que não envolva o exame. Aproveitem o ano de IFG ao máximo, divirtam-se mesmo que tenham a repetição do exame em mente.

Créditos

  • André Pita
  • David Meireles
  • Inês Gueifão
  • João Nuno Soares
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